Após 25 temporadas no ar, o programa apresentado pela mulher mais rica dos EUA, Oprah Winfrey, deixará a grade de programação da rede de TV americana ABC. Essa não é uma notícia nova. Em 2010 a apresentadora já havia comunicado sua decisão de deixar a emissora e não renovou seu contrato, motivada pela queda no valor dos anúncios praticados pelas emissoras e a possibilidade de ganhos maiores em outra plataforma de televisão. A partir de agora, Winfrey se dedicará a um canal de TV próprio transmitido por cabo para seus fãs.
Este é um reflexo do que se passa na televisão broadcast americana (a TV aberta dos EUA) que já fora considerada a maior do mundo, mas que atualmente, está sendo ameaçada pelas tecnologias sem fio, além da antiga concorrência com a TV por cabos e a internet. Hoje, apenas 10% dos americanos assistem a TV convencional. São aqueles que não possuem condições econômicas para adquirirem pacotes de dados na internet ou de TV paga. Consequentemente são pessoas que não atraem a atenção de grandes anunciantes. Para piorar a situação, as empresas de telecomunicações estão pressionando o governo americano para obrigar as emissoras a devolver as faixas de freqüência de transmissão do sinal de TV para utilizá-las nos serviços de internet móvel, pondo fim a era da TV broadcast americana.
A história da TV americana se dá juntamente com o avanço do poderio econômico dos EUA, sua industrialização e a produção em massa de bens. Principalmente a partir da Segunda Grande Guerra. Em 1939, a Europa entra em guerra. Os EUA, aproveitando a base industrial formada ainda no século XIX, passam a fornecer material bélico e insumos para os países aliados. Com isso, a indústria americana começava a se recuperar da Crise de 29. Em 07 de dezembro de 1941, após o ataque japonês à base naval americana em Pearl Habor, os EUA entram na guerra. Mais do que apenas enviar soldados para a batalha, os americanos tinham uma arma que nenhum outro país possuía àquela altura: a capacidade de produção em massa. Como a guerra se dava longe do território americano, toda sua infra-estrutura industrial ficou intacta e tudo foi produzido em larga escala para a guerra. Tanques, carros, 40 bilhões de balas. De 1941 a 1945, foram produzidas 300 mil aeronaves. Para ter toda essa capacidade de produção, foi preciso convocar um outro exército para o esforço de guerra. Com os homens no campo de batalha, as mulheres assumiram os postos nas indústrias e revolucionaram o mercado americano. Os salários pagos às mulheres aumentaram em 12% o consumo nos EUA. Onze mil supermercados foram inaugurados em três anos. O consumo, que era negativo em 1934, em menos US$ 4 milhões de dólares, saltou para US$ 42 milhões, em 1945. A Renda da família americana já era 15 vezes maior do que a renda das famílias européias. Com a Europa esfacelada e sua capacidade industrial destruída ao final da Segunda Guerra, os EUA produziam o dobro da produção de petróleo de todos os países combinados no mundo. Possuíam a metade da capacidade industrial do planeta e 2/3 de todo o ouro mundial. Em apenas 15 anos, 50 milhões de crianças nasceram nos EUA. 20 milhões de empregos foram criados nos 20 anos posteriores a guerra.
Toda essa fantástica capacidade de produção e acumulo de capital se converteram em vendas e os veículos de comunicação americano, principalmente a televisão, se tornaram os maiores produtores de conteúdo do mundo.
Mas, a partir do final da década de 70 e início da década de 80, algo que inédito aconteceu. Pela primeira vez na história da TV americana a audiência caiu e não parou mais. Com o início do deslocamento do ganho de capital da produção de produtos para a bolsa de valores em Wall Street, milhares de americanos e imigrantes perderam seus empregos e capacidade de compra. O valor do anúncio publicitário caiu e também caíram os investimentos nas emissoras. Soma-se a isso o desenvolvimento de tecnologias que permitem acessar conteúdo de entretenimento e informação que anteriormente eram privilégios das redes de TV e rádio.
A partir da década de 90, o que se viu foi uma série de fusões e aquisições o que levaram quase que a totalidade das redes de TV ser adquirida pelos grandes estúdios de cinema. Mas, nem isso está assegurando uma vida tranqüila para os radiodifusores americanos. As produções realizadas pelas cabeças de rede, sem o aporte dos grandes estúdios, são quase que, em sua totalidade, direcionadas ao jornalismo. Programas informacionais e de jogos dominam boa parte da programação diária. Em 2009, o sinal analógico de transmissão de TV foi retirado, dando consolidando a TV Digital nos EUA.
Mas, a TV digital americana tem recebido muitas críticas e é considerada apenas mais do mesmo por ter apostado somente na qualidade das imagens como grande diferencial da TV analógica. Para muitos especialistas americanos, a TV digital é apenas mais uma possibilidade de transmissão, pensada dentro de uma integração com as demais tecnologias, como IPTV e Web TV. A TV aberta americana é hoje apenas uma sombra daquilo que fora nos áureos tempos da industrialização dos Estados Unidos.
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