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Ensino a distancia: entrar é fácil, concluir é que é difícil

O censo do ensino superior, divulgado pelo MEC esta semana, traz dados significativos sobre as modalidades de ensino de graduação presencial e a distancia ofertados no Brasil e demonstram que o governo federal ainda não aprendeu a lição e está cometendo os mesmos erros da graduação presencial.

A meta do Plano Nacional de Educação (PNE) prevê que 30% da população entre 18 e 24 anos esteja cursando o ensino superior até 2011. Para isso, o governo vem autorizando a abertura de novos cursos e novas instituições de ensino em um ritmo muito acelerado. Em 1995, estavam em funcionamento no país 894 IES, número que pulou para 2.165 ano passado. Quanto à oferta de cursos, os números são ainda maiores. São 20.407 cursos gerando uma demanda de 2.435.987 vagas nas universidades. Uma demanda 13,2% maior do que o número de concluintes do ensino médio.

Esses números acarretam vários problemas às IES, problemas estes que foram muito bem explicitados pelo diretor do Centro de Extensão à Comunidade da FEF, José Ataídes Nunes, na coluna Frente a Frente do jornal Folha de Fernandópolis, na edição do dia 25 de novembro deste ano.

O ministro da Educação, Fernando Haddad, em entrevista ao Uol Educação (http://noticias.uol.com.br/educacao/) reconheceu que a expansão do número de instituições privadas ocorrida nos últimos anos não foi suficiente para aumentar o acesso aos cursos superiores. A política de quanto mais cursos melhor, não está dando os resultados esperados, muito pelo contrário, está obrigando as IES a baixar custos, o que, às vezes, significa queda na qualidade do ensino. Esta prática está se repetindo na modalidade de ensino de graduação a distancia. O MEC vem autorizando o oferecimento de novos cursos de forma perigosa e os mesmos problemas da graduação presencial já estão sendo percebidos nos cursos a distancia.

Em 2000, apenas dez cursos eram oferecidos a distancia no país. De acordo com o censo 2005, o número cresceu para 189. No ano passado, 423.411 vagas foram oferecidas, mas apenas 55,2% foram preenchidas, ou seja, apenas 114.642 candidatos efetuaram a matrícula. Mas o número que mais chama atenção é o número de alunos que concluíram o curso a distancia. Ano passado, apenas 12.626 alunos concluíram seus cursos de graduação a distancia. O governo não pode esperar que a simples oferta de cursos aumente o número de indivíduos matriculados no ensino superior.

A diferença entre o número de vagas e o número de matrículas pode ser resultado do acesso à tecnologia, restrito a uma pequena parcela da sociedade, e demonstra que a exclusão digital pode ser a maior barreira a ser enfrentada pelas IES na oferta dessa modalidade. O jornal Folha de S.Paulo publicou uma pesquisa do Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto br (Nick.br) sobre uso de computadores e acesso à internet nos domicílios brasileiros. O trabalho identificou que 85,3% das residências do país não têm acesso à rede. E 66,68% dos brasileiros dizem nunca ter entrado na internet. Na classe A, 81,5% dos domicílios têm acesso à rede. Na classe B, as residências conectadas são 51,2%, e, nas classes D e E, esse total é de 1,6%.

Entretanto, o ensino a distancia não está ligado apenas ao uso do computador e da internet. Um estudo, que conta com o patrocínio do Ministério da Educação (MEC), mostra que 84,7% das instituições que oferecem ensino a distância utilizam a mídia impressa. Atrás do papel, vêm o e-learning (internet), com 61,2% e o CD-Rom, com 41,8% --a soma passa dos 100% porque a mesma instituição pode usar mais de uma mídia como método de aprendizagem.

Os problemas que o ensino a distancia pretende resolver, como: baixo custo para as IES, mensalidade acessível e comodidade para o aluno, etc. trás consigo outros, e dois deles são a competência do aluno em usar a tecnologia - não basta ligar o computador, deve-se saber utilizado bem - e a rígida disciplina pessoal que o curso exige para sua conclusão.

Essa modalidade de ensino vem crescendo em todo mundo e é bem provável que em um futuro bem próximo ela seja a principal forma de estudo a ser ofertada, mas atualmente ainda não é.

Portanto, cabe ao governo federal aliar políticas de inclusão à tecnologia, políticas de fortalecimentos das IES públicas e particulares e desenvolvimento econômico como forma de possibilitar ao aluno se matricular e se manter no curso até sua conclusão.

Apenas autorizar cursos com objetivos de aumentar o número de alunos é muito fácil para o governo e ao mesmo tempo, irresponsável e demagógico.

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