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O contexto social da Mídia

Período analisado: Idade Moderna – compreende o período que vai desde a data aproximada da invenção da prensa gráfica por Gutenberg em 1450, até a Revolução Francesa em 1789.
Por volta de 1500, haviam sido instaladas cerca de 250 prensas gráficas por toda Europa.

• 80 na Itália
• 52 na Alemanha
• 43 na França

Estas e outras prensas, produziam cerca de 27 mil edições por ano, o que significa que – estimando-se uma média de 500 cópias por edição – cerca de 13 milhões de livros estavam circulando, para uma população de aproximadamente 100 milhões de habitantes. Fazendo-se os cálculos, chegamos ao número de 8 livros por habitantes. Muito até para os padrões de hoje. Mas deve-se lembrar também, que naquela época o número de analfabetos era imenso. Mas aos poucos esse número foi diminuindo e a leitura começou a provocar transformações na sociedade.

Em outros países da Europa e do Oriente Médio, onde a prensa demorou a chegar, foram vendo os países mais letrados se distanciando no desenvolvimento sócio-econômico.

Somente em 1711 a prensa gráfica chegou à Rússia. No mundo mulçumano a demora foi maior ainda.

  • Em 1515, o Sultão Selim I fez um decreto punindo com a morte a prática da impressão. No vim do século, o sultão Murad III permitiu a venda de livros impressos não-religiosos com caracteres árabes, mas estes provavelmente eram importados da Itália. (BRIGGS, BURKE, 2004, p. 27).
A gazeta oficial otomana só foi fundada em 1831. Mais de trezentos anos depois da prensa de Gutenberg.

Com as técnicas de impressão aprimoradas, maior distribuição de livros, queda na taxa de analfabetos e surgimentos dos jornais, um problema surgiu.

  • As questões mais graves eram as de recuperação de informação e, ligada a isso, a seleção e crítica de livros e autores. Havia necessidade de novos métodos de administração de informação, assim como hoje em dia, nos primeiros tempos da internet. No início da Idade Média, o problema havia sido a falta de livros, a escassez. No século XVI, foi o oposto. (BRIGGS, BURKE, 2004, p. 29).
A sociedade não permaneceu imune a esta quantidade de informação. Marshall McLuhan apontou a mudança do foco auditivo para o visual, chegando a dizer que “os impressos abriram uma fenda entre a cabeça e o coração”. Essa nova forma de ver o mundo, aliado ao descontentamento generalizado por conta dos abusos da igreja e de soberanos, contribuíram para a aceitação dos livros e de seus conteúdos.

A mudança não se deu apenas na mente e no espírito. Como toda tecnologia inserida em uma sociedade ela provocou transformações, principalmente nas relações de trabalho. Novas profissões surgiram, como: escrivão, contadores, notários, carteiros, etc. Outras desapareceram. Momento muito familiar com o surgimento da grande rede. Construtores de sites, hospedagens, suporte técnico e etc. A história se repete.

Com mais e mais livros na praça, não era de se surpreender que mecanismos de censura surgissem tentando conter as idéias e seus idealizadores.

  • O sistema mais famoso e difundido do período foi o da Igreja Católica, com seu Index dos Livros Proibidos. O index era um catálogo – talvez melhor descrito como um anticatálago – de livros impressos que os fiéis estavam proibidos de ler. Havia também vários índices locais, começando com o publicado em 1544 pela Sorbonne, porém o mais importante foram aqueles editados pela autoridade papal e distribuído por toda a Igreja, de meados do século XVI a meados do séc. XVII. (BRIGGS, BURKE, 2004, p. 58).
Com a proibição dos livros a Igreja Católica passa a disseminar seus ensinamentos por meio das imagens. Os protestantes aliados da prensa e dos livros aboliram qualquer imagem de seus templos e cultos. Países protestantes como Alemanha, Inglaterra e França e Suíça experimentavam desenvolvimento sócio-econômico. Países católicos tinham seu desenvolvimento seriamente comprometido.

Uma das conseqüências dessa censura foi o aparecimento da comunicação clandestina e de livros pornográficos.

Outra importante conseqüência foi a padronização no modo de falar e uniformidade do discurso, o que mais tarde seria conhecido como Esfera Pública.

Com cada vez mais gente lendo e consumindo material impresso, a publicidade passa a fazer parte do cotidiano das publicações. E o mercado era promissor. “alguns editores trabalhavam tanto para protestantes quanto para católicos”. A informação passou a ser um negócio, e como todo negócio, visa lucro.

A comunicação como negócio coloca em confronto os interesses entre Público X Privado. O que até nos dias atuais é tema de calorosos debates na comunidade acadêmica.

Habermas afirma que o século XVIII (começando na década de 1690) foi um período crucial para o surgimento da argumentação racional e crítica, presente dentro da Esfera Pública, burguesa liberal, a qual pelo menos em princípio, estava aberta para a participação de todos.

Essa participação de todos acabou por levar a França a Revolução em 1789 e posteriormente outros países absolutistas à democracia.


BIBLIOGRAFIA

BRIGGS, Asa. BURKE, Peter. A história social da mídia. Zahar. São Paulo: 2004.



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