Acontece que a aprovação desta Lei irá impactar sobremaneira o futuro dos profissionais de comunicação no Brasil, principalmente pela obrigatoriedade da cota conteúdo nacional e a exigência de que metade dela seja produzida por produtoras independentes e, certamente, os cursos de comunicação terão grande participação na formação dos futuros profissionais deste mercado. Infelizmente, a repercussão dentro do meio acadêmico foi tão exígua que chega a ser preocupante, pois isto pode indicar um descompasso dos cursos de comunicação com a realidade e ainda a falta de interesse e engajamento do estudante de comunicação com regras que definem seu futuro profissional. Me pergunto: o que eles estão lendo? Que notícias procuram na rede? O que os professores estão passando para esses alunos?
Mas, quais são esses impactos? Simples: emprego. A nova Lei do cabo irá abrir uma nova gama de oportunidades nos próximos anos para os profissionais de comunicação, que certamente será composta por grande parte dos alunos que estão frequentando hoje alguma das habilitações dos cursos de comunicação ou recém formados. Há outra parte, será preenchida por muitos profissionais que atualmente se encontram desempregados ou em serviços com baixa remuneração. Mas, para isso, é preciso que este profissional esteja adequando com as novas demandas do mercado. É ai que entram os cursos de comunicação.
A comunicação está mudando. Estamos passando do paradigma analógico de produção e distribuição de informação para o paradigma digital de produção e distribuição. Se a comunicação está mudando, certamente o profissional de comunicação também deverá mudar. Isso já aconteceu antes.
Nas décadas de 60 e 70 os cursos de comunicação e suas devidas habilitações tinham em sua ênfase curricular as disciplinas que preparavam o aluno para o contexto tecnológico daquela época. No jornalismo e na publicidade a ênfase curricular eram nas disciplinas para os veículos impressos, pois jornais e revistas tinham forte penetração na sociedade. Dizia-se que para o jornalista que não possuía um bom texto, o único refúgio era a TV ou o rádio.
Nos décadas de 80 e 90 o desenvolvimento nas tecnologias de produção audiovisual e a expansão das redes de televisão começaram a atrair a atenção do profissionais de comunicação, assim como a publicidade cresceu atraindo grandes agências. Os cursos de jornalismo, publicidade e Rádio e TV começaram a dar mais atenção a esta nova demanda.
Nos anos 2000 a tecnologia audiovisual continuou sua massificação. Mas agora, estamos vendo novamente a transição tecnológica forçar a adaptação do profissional de comunicação para este novo mercado. Porém, grande parte dos cursos ainda está preso no paradigma analógico.
Assim como cada época se adaptou ao seu contexto tecnológico. Em nossos dias o contexto mudou e a ênfase dos cursos também terão que mudar. Se nas décadas de 70 e 80 a ênfase se deu no impresso, nas décadas de 80 e 90 na televisão, agora a ênfase deve se dar no conteúdo digital e no empreendedorismo, pois com a internet cada profissional de comunicação tem a oportunidade de montar seu próprio negócio como nunca teve antes. Agências de publicidade para gerenciar comercio eletrônico, links patrocinados, blogs jornalísticos, canais de vídeo e áudio para divulgar produtos ou programas para TV e rádio web são apenas alguns exemplos do que a nova tecnologia pode oferecer para aqueles que queiram fugir das redações e emissoras tradicionais.
Mas, para isso, os cursos de comunicação deverão rever suas grades curriculares. Em muitos deles, as disciplinas de conteúdo online são oferecidas no final do curso. Há ainda uma grande parte das disciplinas voltadas para o jornalismo impresso ou para o jornalismo de TV. A publicidade ainda se concentra em campanhas direcionadas a públicos determinados por dados demográficos. O público, cada vez mais, não será divido por classe social, mas por conectado ou desconectado. A publicidade online está mudando completamente a lógica publicitária pensada para os veículos de comunicação de massa. A publicidade na internet foge da lógica massiva e vai ao encontro da lógica personalista ou individual da propaganda, tendo que se adequar às regras dos mecanismos de buscas e seus algorítimos.
Devemos ter em nossos cursos de graduação disciplinas que reforcem as habilidades dos estudantes não em apenas uma categoria ou habilitação. No contexto atual todo jornalista deve ser um pouco publicitário e um pouco Rádio e TV e assim sucessivamente e até mesmo disciplinas dos Sistemas de Informação aprofundando o conhecimento em redes de informação, tecnologias e linguagem que possibilite ao recém formado utilizar de forma profissional as ferramentas tecnológicas de comunicação. A demanda do mercado hoje é por um profissional de comunicação, que possua competência para atuar em qualquer uma dessas áreas.
Poucos conseguem compreender que estamos em um período de transição na história do mundo. Todas as áreas da nossa vida estão sendo transformadas por esta nova sociedade: informacional e em rede. É um ledo engano acreditar que os cursos não devam se adaptar a este novo paradigma. Mas esta não é uma tarefa fácil, aliás, esta adaptação é o maior desafio dos cursos de comunicação no país.
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