Texto publicado em: FNDC
06/11/2011 |
Thaís Pinheiro
Estadão
Web amplifica ibope da TV e garante cena solo
Nas noites de sábado, quando o programa Legendários entra no ar pela Record, uma legião - com o perdão do trocadilho - de internautas já está a postos, interagindo pelas redes sociais ou assistindo ao Legendários na Web, que acontece exclusivamente na web e chega a ter 200 mil visualizações durante sua exibição ao vivo. Isso não significa que toda essa turma estará com o controle remoto na mão.
A audiência da televisão agora se consolida em outras plataformas e aqueles que nem sempre registram números tão surpreendentes no Ibope podem ter seu barulho potencializado quando ganham terreno na web, principalmente nas redes sociais. "É quase mais divertido acompanhar os tweets do que o próprio jogo ou uma novela que está passando na televisão. Criou-se uma comunidade em torno de Vale Tudo, por exemplo, que era quase mais forte na internet do que na TV a cabo", avalia João Ramirez, consultor de negócios digitais e estrategista digital da campanha de Marina Silva à Presidência da República, em 2010.
O Legendários, que já nasceu baseado no conceito de multiplataformas, investe tanto na TV quanto na internet para ver seu conteúdo repercutir. "No nosso caso, a audiência da TV hoje é muito maior, claro, 10 pontos de audiência é muita gente. O que a gente está fazendo é crescendo paralelamente, juntos. Não gera uma competição, gera um complemento", explica Marcos Mion, apresentador da atração e que conta com quase 3 milhões de seguidores no Twitter.
É no Twitter, aliás, que alguns dos temas tratados na tela ganham mais força. Em 2010, a vitória de Fernanda Souza na Dança dos Famosos, quadro apresentado no Domingão do Faustão, rendeu muitos comentários na rede social, com direito a troca de farpas entre participante e jurado.
Às segundas-feiras, não escapam dos Trending Topics (assuntos mais populares do Twitter) temas relacionados a programas que abocanham uma fatia muito menor no Ibope se comparados à atração de Fausto Silva, mas que conseguem ser assunto por alguns dias na rede, casos do CQC, da Band, e o do Roda Viva, da Cultura.
"Os integrantes do CQC possuem uma comunidade de fãs própria, eles chegam a quase 14 milhões de seguidores", observa o consultor João Ramirez. "Se eles chamarem o público para assisti-los, quase não precisam da emissora para veicular o programa. Eles acabam potencializando toda e qualquer atividade da qual participam", continua. Na TV, o programa pilotado por Marcelo Tas não passa dos 6 pontos de média no Ibope e há um ano mantém o CQC 3.0, só para a web. O sucesso do formato "3.0" foi tanto que outros dois programas da casa ganharam versão online: Jogo Aberto e Receita Minuto.
No último dia 17, o Roda Viva ganhou nova bancada, novo apresentador e seus tuiteiros de volta. O resultado foi 0,7 ponto de audiência (o que não chega a 58,2 mil domicílios na Grande São Paulo) - mesma média da temporada com Marília Gabriela - e um lugar cativo nos TT’s, que pode ser visto por milhões de pessoas. "O Roda Viva sempre teve a caraterística de ter muita repercussão, jornais repercutiam ao longo da semana toda. O programa tem uma longevidade maior do que seu próprio horário", aponta Fernando Vieira de Mello, vice-presidente de conteúdo da emissora. Além de ser uma ferramenta de divulgação, a rede de microblogs também é vista como termômetro pela TV. "É um manancial importante para sentir um pouco o pulso do telespectador, quais são as preocupações, tendência de opinião", conclui Mello, justificando que os tuiteiros se ausentaram da bancada durante o período de Gabi apenas porque a atração era gravada.
Outros assuntos bombardearam as redes sociais neste ano foram o UFC no Brasil (RedeTV!) e o Rock in Rio (Globo e Multishow). Neste caso, segundo Ramirez, seu sucesso na web é só representação do que está em alta no cotidiano. "Não acredito muito em fenômenos que aconteçam só na internet. Esses são exemplos de coisas que estavam engajando as pessoas de alguma forma."
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Entrevista
Marcos Mion
Apresentador de TV, ator e empresário
Quando a sua relação com o público na internet começou a ficar mais forte?
Sou um cara de teatro, fiz faculdade de Filosofia, então sempre demorei para entrar nas ondas tecnológicas. Em 2007, começou uma onda de blogs. O Diogo Boni me convidou pra ter uma página no BlogLog, eu recusei por quase um ano, porque achava que não ia ter tempo, que não ia conseguir. Aceitei e até hoje não sei o que aconteceu, em dois meses já era o mais acessado lá dentro e encerrei o ano como o blog de pessoa física mais acessado do País. Foi uma loucura, não entendia muito do assunto, e a coisa ficou muito grande. Aí comecei a ver que realmente a internet tem um poder muito grande. Algum tempo depois fui apresentado ao Twitter pelo Felipe Solari e no começo a gente tratava realmente como uma rede social. Aí a coisa foi virando, acontecendo...
Quando começou a usar o Twitter nos seus programas?
O Descarga, último programa que eu fiz na MTV, foi o primeiro programa da TV brasileira a colocar o Twitter na tela em real time. Então, conforme essas coisas foram aparecendo, eu estava inserido nelas. Quando vim para a Record, o projeto Legendários já nasceu multiplataformas no primeiro risco de lápis. E aí a gente foi aprendendo que adaptar uma coisa da TV no formato que ela é pra internet não dá certo, é uma linguagem diferente, ponto de vista diferente. A gente fez coisas exclusivamente para o pessoal do Twitter, para eles estarem ativos, para darem risada...
Qual é o papel do seu público na repercussão do seu programa?
Eu conto muito com esse público. Muitas vezes, isso não reverte em números de audiência na TV, mas reverte em conteúdo, em rapidez de informação, em pessoas interessantes comentando. É óbvio que todas as agências de publicidade estão ligadas no que está acontecendo nas redes sociais, então é um casamento. A audiência da internet não é similar à da televisão, mas a gente já está dando o primeiro passo e acredito que vai ser.
Em algum momento pensou que a audiência na internet poderia tirar a audiência da TV?
Não, não. Isso é um medo de quem não conhece. As duas coisas se complementam. A proposta e o futuro é que continuem as duas mídias juntas, isso vai abrir o leque de opções.
Foto: Entretenimento R7 - Divulgação
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