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Mídia Ninja e o novo jornalismo

Não resta outra alternativa para os grandes veículos de informação a não ser dizer a verdade.


Muitos comentários nas redes sociais dão conta da participação dos fundadores da “Mídia Ninja” no programa Roda Viva da TV Cultura de São Paulo e o que chamou mais a atenção não foram as declarações dos entrevistados, mas sim o que não foi perguntado pelo entrevistadores, que ainda não perceberam as reais mudanças no jornalismo que a Era da Informação esta impondo à indústria midiática e às redações dos veículos tradicionais de informação.

Por: Kiko Machado

Grande parte das perguntas representa a visão “analógica” do modo de produção de informação. Foram perguntas que demonstraram claramente que a velha guarda do jornalismo ainda enxerga o modo de produção da informação dentro dos parâmetros industriais. Quem financia o Mídia Nínja? Essa pergunta dominou quase a totalidade do primeiro bloco do programa. E por que essa preocupação? Porque em um sistema de produção capitalista da informação, alguém tem que pagar para que essa informação seja distribuída. E se alguém paga, visa atender a objetivos: ou lucro ou político. Foi muito difícil para o grupo de entrevistadores compreender que a era da informação rompe com o modelo de distribuição da informação e com os custos de produção e possibilita a outros grupos produzir informação e fazer essa informação chegar a diversos outros grupos. Ao que parece a preocupação da velha mídia é: se você esta chegando para a festa, quem lhe convidou?

O que temos que discutir é outra coisa. A novidade é outra e não essa. Pensemos o seguinte: se em 1984, estes dispositivos tecnológicos que permitem a transmissão ao vivo via internet por qualquer pessoa já estivessem disponíveis, a TV Globo poderia ter noticiado a manifestação a favor das Diretas Já! como sendo uma  comemoração pelo aniversário de São Paulo? É isto que mudou, este é fato novo. Hoje existe um meio de vencer um sistema oligopolista de comunicação televisiva que veio se estruturando em mais de 60 anos e sem a necessidade da concessão do Estado. Ou seja, a TV Globo e qualquer que seja, jamais poderá fazer uma cobertura como aquela. Outro exemplo é a “bolinha de papel”, quando José Serra, então candidato à presidência em 2010, teve uma cobertura favorável do Jornal Nacional na tentativa de se provar que o candidato teria sofrido uma agressão. Poucas horas depois da matéria ter sido veiculada foi desmentida na internet. Estes exemplos demonstram que NÃO RESTA OUTRA ALTERNATIVA AOS VEÍCULOS JORNALÍSTICOS A NÃO SER DIZER A VERDADE, porque qualquer outra coisa será desmentida. E isso é animador dentro de uma democracia.

Se qualquer pessoa, como agente de informação está comprometido com a verdade e existem outros meios que me forçam dizer a verdade, não importa quem a financia, a qual partido político ela está ligada ou qual seu grau de imparcialidade. Essas preocupações dizem respeito ao jornalismo como negócio, não ao jornalismo que vem das ruas. O problema é que o jornalismo praticado pelos grandes veículos no Brasil é um jornalismo de oposição política, nas palavras da própria presidente da ANJ, Maria Judith Brito, em 2010.

Pouco se tem falado sobre isso, mas uma parte das causas que levaram milhares às ruas nos protesto, foi o descompasso entre o que era publicado nos impressos e dito nos telejornais sobre a realidade do país. Estes veículos vinham há muito se pautando pela cobertura econômica com temas como PIB, volta da inflação, etc. e longe da real necessidade da população que era transporte, saúde de qualidade e educação. Prova disto foi o comentário equivocado de Arnaldo Jabor no início das manifestações e o seu “mea culpa” apenas dois dias depois no mesmo telejornal.

Estamos no início de um novo jornalismo. “ O jornalismo deixa de ser encarado como uma atividade industrial. E que o jornalista convencional pare de ser encarado como um operário da informação”. Define Bruno Torturra.


Abaixo o vídeo com a entrevista na íntegra.



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