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A solução é a TV pública?

Em nenhum país do mundo uma emissora de televisão possui os índices de audiência que a TV Globo possui aqui no Brasil. E já foi pior. Durante os anos 80 a TV Globo era imbatível. Chegou a ter 100% dos televisores ligados no canal no último capítulo da novela Roque Santeiro, em 1986. Mas, do ano 2000 para cá, este cenário está mudando. As tecnologias digitais estão impondo desafios importantes à supremacia do canal. Especialistas do setor apontam que esta foi uma década perdida em relação a audiência. O share diminuiu um ponto percentual de 2001 a 2009, apesar do número de aparelhos de televisão nos domicílios ter crescido de 41,1 milhões, para 54,3 milhões. Nenhuma outra emissora de televisão brasileira foi capaz de desafiar a globo, mas a internet sim. E este não é um problema apenas nacional. Emissoras de TV de todo mundo passam pelo mesmo problema. O que agrava a questão no Brasil é esta enorme participação da TV Globo na audiência dos brasileiros.

Durante muito tempo, a TV Globo tentou manter o modelo de negócios atual e não apontava nenhuma estratégia de adaptação aos novos tempos. Porém, começa a sinalizar que está preocupada com esta situação e dá indícios que esta se preparando para enfrentar a concorrência que a internet vem impondo. Dia 23/06, em um evento em São Paulo, executivos da Rede Globo, apresentaram uma mudança conceitual importante na atuação de seu canal de TV. Em breve a TV Globo não deixará de ser uma emissora de conteúdo e adotará um modelo de produção convergente, a ponto de se auto-proclamar uma “media station”, (veja matéria completa) ou seja, uma produtora de conteúdo que distribuirá produtos audiovisuais para qualquer plataforma seja TV aberta ou pela internet.

Pode parecer pouco, mas esta postura altera por completo o modelo de negócios atual, e mais, coloca em cheque a estrutura entre as cabeças de rede e as emissoras afiliadas. Se um usuário pode se conectar diretamente ao site da TV Globo e acessar o capítulo de sua novela preferida, por que assistir pela emissora regional de sua cidade? A estrutura de rede nacional, forjada no início dos anos 70, impulsionada pelos governos militares como forma de unificar o país pode estar com os dias contatos? A TV aberta irá conseguir meios de sobrevivência financeira com a publicidade migrando para a internet e a TV broadband? A qualidade técnica e artística das emissoras de TV aberta irá cair? São muitas perguntas sem ainda uma clara resposta.

É neste cenário que entra em ação a figura da TV aberta pública, que aqui no Brasil, não conta com uma aceitação favorável por boa parte dos telespectadores. Durante muito tempo, TV pública era sinônimo de televisão chata e com sinal ruim. Recebia pouco investimento financeiro e era proibida de exibir comerciais. A TV Cultura de São Paulo é um dos poucos exemplos de TV pública que contava com prestígio por parte dos telespectadores. No dia 02 de dezembro de 2007, o governo do Presidente Luis Inácio, lançou a TV Brasil, vinculada a Empresa Brasil de Comunicação. Em boa parte da Europa e Ásia, as emissoras de TV públicas são as responsáveis por grande parte da integralização e divulgação cultural e informativa dos assuntos de interesse geral. As emissoras comerciais de dedicam ao entretenimento e à informação por meio de seus telejornais. Entretanto, sabe-se que muitas vezes as emissoras comerciais agem de acordo com seus interesses econômicos e políticos, como o caso da Rede FOX, nos EUA, acusada pelo Presidente Barack Obama de ser um braço político do Partido Republicano. Na Argentina, O programa “6,7,8”, da TV Pública argentina, desnuda os interesses por trás do noticiários dos grandes meios de comunicação do país. O programa bate pesado nos grandes jornais, rádios e TVs, desmascarando seus interesses, suas manipulações grosseiras e seu falso distanciamento ao noticiar e comentar os principais fatos políticos, sociais e econômicos.

A TV Brasil registra entre tantas diferenças em relação às demais empresas de comunicação privadas do país, a boa diferença de ser a única de alcance federal a possuir um Conselho Curador, composto pelos mais variados segmentos sociais, inclusive com representante de segmento da população negra, responsável por decidir os rumos da instituição pública. Lançou a pouco tempo um canal internacional alcançando 49 países africanos. Investe na co-produção de programas em Angola e Portugal. Vem dando especial destaque ao cinema brasileiro. Porém, parece padecer da imagem negativa de suas antecessoras aqui no Brasil.

Será esta a alternativa da TV aberta no Brasil? Ceder espaço para uma emissora pública em rede, com investimentos públicos, sem depender da publicidade, criando uma grade de programação voltada e controlada pela sociedade civil, deixando para as emissoras comerciais os programas de entretenimento distribuidos pela internet, celulares e etc., comprometido com os anunciantes e com resultados de audiência?

Para a Democracia, sim, seria uma bela alternativa.

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