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Jornalismo em tempos de Internet

Atualizada em: 31/08/2011


Dica: Nao deixe de conferir a entrevista de Luis Nassif para o Interação Midiática no vídeo abaixo. 

Muito tem se falado que a Internet está mudando a forma de se fazer jornalismo. Nos primeiros anos, o texto impresso era transportado para meio digital, mas, com o tempo, editores de conteúdo perceberam que era preciso adequar o texto jornalístico para esta nova plataforma. Porém, depois de mais de 15 anos de jornalismo praticado na internet no Brasil, também se está percebendo que alterações mais profundas estão ocorrendo na prática jornalística. Mais profunda do que adaptação textual ou de linguagem. As mudanças estão se dando no modo como o indivíduo se relaciona com os veículos de informação, disponíveis na Internet ou não, e no despreparo dos jornalistas em lidar com essa nova realidade comunicacional.







Manuel Castells, em seu mais recente livro, Comunicação e Poder, trata das mudanças impostas à comunicação com o advento das redes de informação. É evidente que Castells não aborda apenas o jornalismo, mas focaremos esta análise à prática jornalística, visto os últimos acontecimentos no jornalismo praticado por alguns veículos importantes do país na cobertura das eleições de 2010. A estes veículos nos referiremos como velho jornalismo, pois sua prática está vinculada à prática histórica do fazer jornalístico que veio sendo instituído desde a Revolução Industrial no Séc. XVIII. 

Retomando Castells, com a comunicação em rede, a relação entre a comunicação e o poder se estabelece de forma totalmente nova e diferente daquela estabelecida na sociedade industrial. No desenvolvimento do jornalismo na era industrial a imprensa foi uma das responsáveis pelo surgimento de uma opinião pública, que passou a exercer uma forte influência nos caminhos sócio-econômicos da sociedade.  Surgem então, mecanismos de controle da opinião pública, que vai desde a indústria cultural, defendida pelos Apocalípticos da Escola de Frankfurt, até a hipótese do agendamento, criada por Shaw e McCombs, em 1972, passando pela Espiral do Silêncio de Noelle-Neumann, também em 1972. Nesta hipótese do agendamento, a mídia, pela seleção, disposição e incidência de suas notícias, determina os temas sobre os quais o público falará e discutirá. Já a Espiral do Silêncio, de Noelle-Neumann, afirma que se uma opinião é entendida como pertencente a uma maioria, as demais pessoas tendem a aceitá-la também como sua, por medo de rejeição social e acabam por mudar sua opinião seguindo a maioria. Ou seja, toda a estrutura do jornalismo era voltada para o conceito da audiência de massa. Tanto no seu produto final, a informação, quanto no modo de se produzir, era uma via de mão única. Os veículos noticiavam e o povo aceitava ou não as mensagens, porém se não aceitassem, não havia instrumentos do mesmo porte (se não alguns poucos veículos alternativos) para desconstruir a mensagem veiculada pelos jornais.

Mas, com a comunicação em rede, Castells aponta o surgimento de uma nova configuração do poder exercido pelo estado; o estado em rede, que é aquele onde os limites territoriais, o local e o global, se misturam e se confundem, expandindo e contraindo seu tamanho, influência e poder. Este estado nasceu devido ao surgimento de uma sociedade em rede, que são estruturas comunicativas que possuem pontas de contato umas com as outras criadas pelo fluxo constante de informação e mensagens onde a troca de papéis (emissor-receptor) é a atividade central. Esta nova sociedade gera novos conceitos, novos valores que são expressos por sua atividade na rede e são capazes de evidenciar ou obscurecer idéias, ideologias, crenças e regras morais. O estabelecimento de normas morais e de conduta que eram determinados pelas instituições religiosas ou laicas na sociedade industrial cai por terra na sociedade em rede, pois agora, esta sociedade e que irá decidir aquilo que é ou não de Valor para os integrantes da rede.

Esta é uma nova realidade na comunicação, que os donos de jornais, nem jornalistas estão preparados para enfrentar, pois altera completamente a relação entre o veículo e o seu leitor (ou telespectador, ou ouvinte). Luis Nassif, experiente jornalista com passagem pelos principais veículos de comunicação no país, analisa de forma contundente esta nova etapa do jornalismo nacional. Por ter atuado tanto no velho jornalismo, quanto nesta nova fase, atraves de seu Blog (Luis Nassif Online) e de seu portal de conteúdo (Brasilianas.Org), sua visão sobre a mudança no indivíduo e no fazer jornalístico corroboram a idéia de que os orgãos de imprensa no Brasil não se adequaram a esta nova realidade. Na opinião de Nassif (veja vídeo acima) “eles não sabem fazer de outro modo” e isto está criando um descompasso entre os veículos de informação e as mensagens que circulam na rede.  Matérias e informações produzidas pelos veículos tradicionais e repercutidas por outros órgãos de imprensa não possuem mais o fator tempo ao seu lado. Uma informação que é dada por qualquer órgão físico, no mesmo dia, ou antes de sua chegada as bancas ou horário televisivo, já é desconstruída, reorganizada e difundida pela rede. Os possíveis efeitos que a mensagem poderia produzir são minimizados, e em alguns casos, eliminados. 

Isto é algo novo e fundamental para a Democracia. A imprensa que sempre se gabou de ser o quarto poder está cedendo o lugar para a comunicação em rede. A medida que mais pessoas estiverem conectadas a Internet e fizerem parte dessa nova estrutura, as mudanças serão ainda maiores, pois atingirão em cheio a base financiadora do velho jornalismo: a publicidade.

Portanto, fazer jornalismo na Internet não é apenas adequar o texto a linguagem da rede. É antes de tudo, resgatar as bases do jornalismo sério, isento e democrático.

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