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Padrão de TV Digital brasileiro Conquista a América e parte para o Mundo

Texto publicado em: itvbr


A batalha sobre os padrões de TV Digital continua furiosa em várias partes do mundo em países que ainda não decidiram qual padrão utilizar para a migração da televisão analógica para a digital. O ano de 2010 termina com a maioria da América do Sul utilizando o mesmo padrão, e não é o europeu.

Más notícias para o Projeto DVB, no fim de 2010 outro país sul-americano decidiu revogar sua escolha pelo padrão europeu e juntou-se ao crescente padrão de TV Digital ISDB-T: o Uruguai. Três anos atrás, o grupo europeu viu-se orgulhoso com a escolha do país pelo DVB-T e DVB-H para transmissão de TV Digital fixa e móvel. Agora o governo da pequena, mas orgulhosa nação uruguaia se junta aos seus vizinhos, abraçando o ISDB-Tb.

Geopolítica

Claramente o presidente Mujica desejou colocar o país “em sincronia” com seus vizinhos. “A economia estava sendo levada em conta, mas o ponto de inflexão foi geopolítica“, disse o secretário da Presidêcia, Diego Cánepa. A União Européia “lamentou” a decisão e, em uma nota curta, disse que “uma oportunidade de colaboração foi perdida.”

Antecipando alguns anos atrás, muitos diziam que o ISDB-T poderia “conquistar a América Latina”, ou então “falhar redondamente“, sem meio termo. Se o ISDB-T ficasse restrito apenas ao Brasil, teria sido uma falha épica devido à falta de economia de escala. Finalmente, demorou muito, mais do que se pensava inicialmente, mas todas as peças foram se encaixando e agora o ISDB-Tb é o padrão escolhido pela América do Sul, se não todas as “Américas“.

Uma breve introdução do ISDB-Tb

Baseado no original Japonês ISDB-T mas “melhorado” com a adição da compressão H.264, como resultado das recomendações por pesquisadores e universidades brasileiras, o ISDB-Tb teve seu pulo do gato pela recepção do sinal “one-seg“, que permite a transmissão do sinal digital livre e grátis para dispositivos móveis e computadores portáteis com qualidade SD e HD. One-seg provou ser um recurso muito atraente para democratizar o acesso a notícias e informações em países em desenvolvimento. O desenvolvimento de um middleware próprio por pesquisadores brasileiros, o Ginga, foi a grande inovação do sistema. Construído com tecnologias livres e voltadas especificamente para o ambiente da TV Digital, o Ginga é hoje recomendação internacional para o desenvolvimento de aplicativos para TV Digital e dentre suas principais características, destaca-se a possibilidade de desenvolvimento de aplicações com cunho social, característica essencial para países em desenvolvimento.

Três anos atrás, o grupo DVB foi categórico sobre as perspectivas de adoção do DVB na região e um representante do grupo DVB chegou a dizer que os relatórios sobre os padrões de TV digital na América do Sul, favorecendo o ISDB-t continham “preconceito.”

Uruguai

Voltando em outubro de 2007, Leon Lev, que era o chefe do URSEC (Unidade Reguladora de Serviçoes de Comunicações do Uruguai), disse à revista Broadcaster que a escolha do DVB foi “oportuno, estratégico, e coloca o Uruguai na vanguarda da tecnologia nas Américas.” Em declarações à mesma revista, Rafael Inchausti, presidente da Associação Nacional Uruguaia de Radiodifusores – ANDEBU – não compartilhou da mesma visão e rotulou a escolha do governo como “apressada“: “Nós achamos que à pressa pode ser devido à conversas ou negociações que o Estado uruguaio poderia ter tido com organizações internacionais que apóiam este sistema ou dos governos que promovem esta norma.”

Recentemente, o Uruguai revogou a escolha a fim de se alinhar ao ISDB-T. André Barbosa, assessor especial da Casa Civil, disse sobre a situação: “Desde que o Uruguai adotou o DVB, os europeus não fizeram absolutamente nada, eles fizeram promessas e não cumpriram. Isto aconteceu também no resto do mundo, pois eles estão em crise.”

Neste ponto, o governo brasileiro ofereceu aos uruguaios uma série de empréstimos e planos de investimento que totalizam cerca de USD $60 milhões de dólares. Isto se os uruguaios concordassem em adotar o padrão nipo-brasileiro. Semana passada finalmente o governo uruguaio cedeu e juntou-se aos seus vizinhos Brasil, Argentina, Chile, Peru, Bolívia, Venezuela, Paraguai e Equador.

Argentina

Do outro lado da pequena lagoa do Uruguai, na Argentina, a TV Digital está finalmente começando a decolar. Embora o país tenha uma das mais elevadas taxas de penetração da TV a Cabo, a transmissão de TV Digital parece ser a bola da vez, mas até agora a transmissão digital está presa a alguns canais com recepção irregular.

Como parte dos seus esforços para “democratizar a mídia“, o governo argentino deu subsídios para a produção em 3 fábricas locais de 1.2 milhões de unidades de Set-top-Boxes, os quais seriam distribuídos para famílias de baixa renda que não dispõem de serviços de TV a Cabo. Além disso, criou quatro novos canais públicos para música, educação (estes gerenciados pelo Ministério da Educação do país, e que vai ao ar muitos documentários da BBC), um canal com programação para crianças chamado Paka Paka e outro canal chamado Incaa TV que exibe filmes do cinema latino americano e principalmente o cinema argentino. Um grande presente para a produção audiovisual do país que conta agora com um canal específico para exibição da produção cinematográfica local e como bem disse a presidente Cristina Kirchnner: “O lançamento do Incaa TV é parte de uma revolução cultural na argentina”.

Juntando os canais públicos com alguns canais privados que também transmitem o sinal digital, temos na Argentina um total de 10 canais transmitindo. O governo também está fazendo um investimento significativo para estações de transmissão em todo o país ligados por uma rede de fibra óptica ou satélite (dependendo da localização). Esta rede de TV Digital nacional já atingiu as capitais das províncias de Tucumán e Córdoba.

“Set-Top-Boxes ISDB-Tb ready” foram importados da China, e pouco antes da Copa do Mundo foram vendidos por US $200 dólares. Nos últimos meses, porém, os preços dos Set-Top-Boxes caiu para US $ 120 dólares e estão sendo fabricados localmente. Vale lembrar que estes set-top-boxes vêem preparados para interatividade, com o middleware Ginga “embutido“. Set-top-boxes sem o middleware Ginga e importados da China estão com preços de US $ 75 dólares. Recentemente TVs LCD com sintonizador ISDB-Tb fabricadas localmente apareceram nas lojas para vendas.

Américas

O sonho de uma América do Sul 100% padronizada foi por água abaixo na semana passada quando a Colômbia confirmou o padrão europeu como seu sistema de transmissão digital. A decisão da CNTV (Comissão Nacional de Televisão da Colômbia) foi até surpreendente porque primeiro a pouco mais de um mês a Colômbia revogou o acordo de adoção do padrão DVB-T por desgastes com o Grupo DVB, segundo porque a União Européia não cumpriu o acordo de investimentos para TV Digital no país, terceiro porque com a adoção do DVB-T, a Colômbia ficará “ilhada” na América do Sul como o único país com um sistema de TV Digital diferente, excluindo definitivamente a Colômbia dos negócios de TV Digital entre os países do bloco e quarto porque se a decisão fosse a favor do ISDB-Tb, toda América do Sul ganharia, inclusive a Colômbia, com aumento nos negócios de TV Digital e economia de escala.

Na América do Sul, outros 3 países ainda definem seus padrões de TV Digital: Suriname, Guiana e Guiana Francesa. Em recente workshop realizado no Suriname, a TAS - autoridade reguladora de telecomunicações do país – destacou o ISDB-Tb como o padrão mais “indicado” para o Suriname. Guiana deve seguir a mesma linha e adotar o padrão ISDB-Tb, já a Guiana Francesa possivelmente adotará o padrão europeu.

Na América Central, Costa Rica e Nicarágua já adotaram o padrão ISDB-Tb. A Costa Rica estuda adotar um programa parecido com o argentino: distribuir gratuitamente set-top-boxes para a população de baixa renda e instituições como centros educacionais. Esses set-top-boxes seriam fabricados localmente através de subsídios do governo. O programa também estimularia a redução de impostos para a compra de TVs. O governo da Costa Rica aposta na Copa do Mundo de 2014 no Brasil para alavancar a venda de televisores digitais no país.

Guatemala e Cuba devem ser os próximos países na América Central a adotarem o padrão ISDB-Tb. Membros do governo da Guatemala estiveram no Brasil em novembro para conhecerem de perto o padrão brasileiro. Um ponto que deve fazer com que a Guatemala decida pelo padrão ISDB-Tb é a possibilidade de transmissão do sinal digital a dispositivos móveis. Na Guatemala a penetração de aparelhos celulares na população chega a ser de 2 por habitante, o que contribuiria bastante para a inclusão social e digital. Em Cuba, a decisão está entre o ISDB-Tb e o DTMB (padrão Chinês). Como disse um dirigente cubano, a decisão da escolha será política. Sendo assim, o ISDB-Tb leva vantagem por ser adotado na maioria dos países na América e por possuir vantagens econômicas como investimentos por parte do Brasil nos países que adotam o padrão.

Outros países na América Central que acenam com a adoção do ISDB-Tb são Honduras, Belize e El Salvador.

Ásia

Em junho de 2010 as Filipinas foi o primeiro país asiático (fora o Japão) a adotar de forma oficial o ISDB-Tb. No acordo, Japão e Brasil cooperariam para o desenvolvimento da TV Digital no país. Atualmente Japão e Filipinas trabalham em um memorando de cooperação que prevê o treinamento de engenheiros filipinos no Japão e até a possível ida de engenheiros japoneses às Filipinas para treinamento de mão-de-obra. O governo japonês investirá também um uma fábrica local de set-top-boxes. Os filipinos buscam agora que o Japão também subside a fabricação de set-top-boxes nessa fábrica. A implementação do ISDB-T nas Filipinas esbarra nas normas de regulação da TV Digital. O grupo responsável por implementar essas normas será composto por membros do setor de radiodifusão, governo, indústria e outras partes interessadas. Só assim o ISDB-T poderá ser implementado no país. A projeção do governo é que a migração total ocorrerá até, no máximo, 10 anos.
Próxima batalha: África

Não é segredo para ninguém que o Brasil faz lobby para o seu padrão em outros continentes. A milhares de kilômetros de distância, o governo da África do Sul termina 2010 sem uma decisão firme sobre o seu padrão de TV Digital. Durante o ano de 2010, uma verdadeira guerra foi travada na África do Sul sobre a escolha de qual padrão deveria ser adotado: de um lado o lobby brasileiro a favor do ISDB-Tb, do outro a pressão européia a favor do DVB-T2. Enquanto alguns setores do governo sul-africano eram favoráveis ao padrão brasileiro, grande parte da indústria e imprensa sul-africana eram favoráveis ao padrão europeu. Com direito a “choros” em público, ameaças de processos contra o governo e apresentações tendenciosas a favor do DVB-T2, a mídia sul-africana conseguiu convencer a opinião pública de que a possível escolha do padrão brasileiro seria um “atentado” ao país. Os sul-africanos começaram a ver o padrão brasileiro como uma mistura de “gambiarra” e “desprezo“. Em minha opinião os sul-africanos ficaram aterrorizados com a possibilidade de adotarem um padrão de TV Digital de um país do “terceiro mundo” e não um padrão da “rica e bonita” Europa. O fato é que a pressão deu certo, porém, a SADC (Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral), ao invés de exigir a adoção do padrão europeu aos países da África, apenas “recomendeu” a adoção do DVB-T2, deixando a decisão final para cada país. E nisso o ISDB-Tb sai ganhando, países como Angola, Botswana e Moçambique já demonstraram interesse em adotar o padrão brasileiro e, combinando o fato de que o Grupo DVB não honrou compromissos anteriores e o padrão DVB-T2 não ter sido implementando em nenhum país do mundo, o ISDB-Tb sai ainda mais fortalecido.
Na África, o ISDB-Tb perdeu uma batalha, mas não a guerra. É bom ficar de olho.


Enquanto isso no Brasil

O Brasil é o país mais “antigo” a operar o ISDB-Tb, mas isso não quer dizer que seja de forma eficiente. Com 3 anos de lançamento da TV Digital no país, apenas 49 cidades recebem o sinal digital. Muitas ainda com recepção irregular. A falta de infra-estrutura, mão-de-obra e custo elevado de equipamentos é o grande calcanhar de aquilles da TV Digital no país. Falta também uma política de popularização da TV Digital e seus benefícios. Uma campanha feita pelo Fórum do Sistema Brasileiro de Televisão Digital sobre os benefícios da TV Digital mostrou-se ineficiente. Esperava-se uma atuação mais forte do governo com relação à massificação da TV Digital no país. 2010 passou, a interatividade não veio de fato e não temos conversores populares. Temos um ou outro conversor e celular com Ginga. Mesmo assim, o conteúdo interativo que deveria ser criado e transmitido pelas emissoras ainda é irrisório. É muito pouco para um país que exporta um padrão de TV Digital. As emissoras respondem que por ser uma tecnologia inovadora e recente, ainda não possuem um modelo para implementar e que o grande impasse técnico é o tempo: Como colocar um aplicativo interativo em um vídeo institucional ou break comercial de curta duração ?

O Brasil exporta TV Digital, mas ainda engatinha no seu uso. A boa notícia é que está previsto para o primeiro trimestre de 2011 a chegada de conversores com o chamado Ginga-Full (NCL, Lua e Java) no mercado a preços de no máximo R$ 200,00 com possibilidades de chegar a um preço de R$ 100,00.

Mas não só de percalços vive a TV Digital brasileira. Houve muitas conquistas. Se o governo deixa a desejar em ações dentro do país ele se mostra bastante eficaz fora dele. Em 3 anos, 11 países adotaram o ISDB-Tb. E há grandes possibilidades que este número aumente em 2011. Dados recentes de empresas de consultorias internacionais mostram o Brasil como líder tecnológico na área, abrindo assim diversas oportunidades de negócios para empresas nacionais em países que adotem a tecnologia. O Ginga, recomendação da União Internacional de Telecomunicações para serviços IPTV é o grande mote brasileiro e o responsável por um novo nicho na indústria de software.

Se o sinal digital demora a chegar, a venda de televisores digitais em 2010 bateu recordes. Talvez impulsionada pela Copa do Mundo na África, as vendas bateram na casa de 11 milhões de televisores. A má notícia para os que compraram é que grande parte destes televisores, apesar de virem com o conversor digital embutido, não poderão exibir conteúdo interativo disponibilizado pelas emissoras por não possuírem o Ginga. Uma possível atualização do conversor poderia ser feita, mas é bastante improvável que estes conversores possam ser atualizados devido à limitação de hardware. A alternativa é a compra de um conversor avulso com o middleware Ginga. Atualmente temos poucas opções de TV’s e conversores com Ginga no mercado.

TV’s
LG: Modelos LG 42LH45ED de 42 polegadas e LG47LH45ED e 47 polegadas.
Sony: Todos os modelos da linha 2010 possuem o Ginga.
Philips: Modelos PFL6615, PFL8605 e PFL9605
Panasonic: Modelo D20 (LCD-LED) e VT20 (3D)

Celular
LG: Modelo GM600

Conversores
Visiontec VT7000A, VT7200E
Proview XPS-1000 (Instalação do middleware feita de forma separada)

Há muito trabalho a fazer. Que em 2011, o sucesso do ISDB-Tb continue lá fora e principalmente aqui dentro !
Por Fernando Cassia
Alterações e texto por iTVBr

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